segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

CAP. 26 – UM SORVETE, UM CONVITE


Na sorveteria, enquanto Gabriela se ocupava ativamente de seu sorvete, Fabiano e eu trocávamos olhares divertidos enquanto tomávamos nossos sorvetes.

De repente, Fabiano me olhou diretamente nos olhos e perguntou baixinho para que Gabriela não escutasse:

- Por que uma mulher tão linda ainda está sozinha ?

Eu fiquei desconcertada com uma pergunta tão direta e que de alguma forma, tocava uma ferida que eu preferia ignorar em minha vida! Mas respirei fundo e respondi:

- Hoje eu não sou mais uma mulher totalmente livre Fabiano! Tenho uma filha para criar! E você sabe o quanto as pessoas, principalmente os homens, são cruéis com mães solteiras! Só se aproximam de nós porque imaginam que somos fáceis! É fácil conhecer meus passos, criticá-los e desconhecer os meus tropeços!

Fabiano segurou minha mão e por um momento eu esqueci de que Gabriela estava conosco e me permiti segurar a sua. Era delicioso sentir o toque de uma mão masculina, principalmente porque essa mão me transmitia paz e segurança.

Acariciando minha mão, ele me fez um convite que daria a minha vida um novo colorido:

- O que acha de jantar fora hoje ???? Mas desta vez a Gabi fica com dona Augusta!

Ao ouvir “Gabi fica com dona Augusta”, ela logo se interpôs na conversa:

- Eu vou também! Se for pra passear eu não vou ficar em casa sozinha!

Eu não agüentei... tive que rir... igualzinha a mim quando era pequena, que não perdia nenhum detalhe da conversa quando me interessava. Peguei Gabi no colo e tratei de entrar em acordo com ela:

- Filha, a mamãe vai sair com o tio Fabiano a noite! Mas como vamos voltar tarde, a senhorita vai ficar com a dona Augusta! Em troca de você liberar a mamãe pra sair, amanhã te levo pra jantar naquela lanchonete que você ADORA! Combinado ?

Negociar com Gabi era fácil, mesmo sabendo que ia doer no meu bolso, tinha certeza de que esse jantar seria inesquecível!

Olhando para Fabiano toda atrevidinha, ela diz:

- Tio, o senhor tem que cuidar bem da mamãe! E tem que trazer presente pra mim, senão eu não deixo mais ela sair com o senhor!

Fabiano achou graça da situação:

- Pode deixar que vou cuidar muito bem da mamãe!!

E olhando para mim:

- E de você também se a mamãe deixar!

Fiquei desconcertada com o que ouvi, mas preferi fazer de conta que o assunto não era comigo! Não queria confundir, misturar as coisas.

Quando chegamos em casa, deixei que ela fosse brincar no quintal e acompanhei Fabiano até a porta. Ao se despedir, ele me puxou pra perto dele e me roubou um beijo:

- Será que eu ganho um desse logo mais ????

Não respondi. Puxei-o para mais perto de mim e o beijei.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CAP. 25 – ESTREITANDO LAÇOS


No caminho de volta pra casa, Fabiano estava silencioso. Eu respeitei seu silêncio e pensei em tudo que tinha visto e ouvido hoje. Esse homem charmoso ao meu lado guardava dentro de si um sofrimento tão grande, e mesmo assim fora capaz de me defender com tanto ardor sem ao menos conhecer a minha história.

Fui arrancada de meus pensamentos pela voz de Fabiano que me chamava:

- Planeta terra chamando Carolina! E me deu um leve beliscão.

- Ai Fabiano! Quer me matar de susto ???? Fiz uma careta tentando mostrar que tinha ficado brava, mas eu não conseguia ficar brava com aqueles lindos olhos azuis...

(Carolina, que pensamento é esse!!! Ele é seu chefe, está todo triste lembrando da esposa e da filha e você pensando bobeiras ??? céus!! Não sou eu!).

- Um sorvete de leite condensado pelos seus pensamentos! Ele riu e pegou em minha mão.

(ai meu Deus!! Leitores, vejam como estou me sentindo ridiculamente adolescente! A mão dele pousou sobre a minha por puro engano! Tenho certeza!).

- Sorvete de leite condensado ???? Só se tiver calda de chocolate!  Eu respondi e devo ter feito uma carinha de criança pidoncha, pois ele rindo, respondeu:

- Onde eu já ouvi essa frase ???? Deixa eu me lembrar....

- Ah sim! Tal mãe, tal filha! A Gabi tem a quem puxar! E abriu o sorriso mais lindo do mundo, era bom ver esse sorriso depois de ter sofrido tanto.

Olhando fundo nos meus olhos ele continuou:

- E então, vamos tomar sorvete ?

- Convite aceito senhor Fabiano! Mas preciso levar sorvete para a Gabriela depois!

- De fato Carol, vamos fazer melhor! Vamos buscá-la!

E seguimos para minha casa buscar minha pequena, que em poucos instantes estaria toda melada de calda e sorvete, para o meu desespero que teria que dar banho nela mais tarde...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CAP. 24 – DESABAFO


A história de Fabiano era bem triste... que dor ele não sentiu ao acordar num quarto de hospital, machucado, cheio de dores e ainda descobrir que sua família não existia mais.

Percebendo que me contar sua história estava ajudando a acalmá-lo, deixei que continuasse e sentamo-nos no banquinho de frente para a lápide.

 Fernanda e Gaby foram veladas na capela do hospital. Alguns amigos vieram para o velório. Quando eu apareci todo enfaixado, senti que todos os olhares se voltaram para mim.

 Em outros tempos, eu diria que chorar na frente dos outros, era indelicado, mas naquele momento, eu não queria saber dos meus antigos pensamentos, só pensava na realidade que eu via diante de meus olhos... a minha família dentro de um caixão... era demais pra mim... chorei diante de todos eles, extravasando a minha dor!

 Meus pais me amparavam tentando me dar forças, mas eu queria estar ali com elas, não fazia sentido continuar vivendo, vendo minha família desfeita por culpa de um motorista desatento!

Meus sogros choravam a perda da filha e da neta  e não sabiam o que me dizer, nos abraçamos os três, irmanados na mesma dor.

Tirei alguns meses de licença para poder me recuperar e tentar esquecer essa tragédia. Fechei a minha casa e voltei a morar com meus pais, era insuportável chegar em casa e ver tudo vazio e sem vida!

 Eu me acostumei a ser sozinho, e de certa forma, me tornei uma pessoa calada, de pouca conversa. E então eu conheci você, que veio trabalhar na agência onde eu sou gerente e que também tinha uma história triste.

 No dia em que te vi gritar com o seu antigo noivo e começar a chorar, algo em mim me fez querer te defender! Pensei que naquele acidente, se fosse eu quem tivesse  morrido, a minha esposa teria ficado viúva com uma filha para criar ou talvez sozinha... e a mercê de encontrar um cara como esse Samuel... e então eu resolvi te defender pessoalmente e me aproximei de você! E foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida... os meus dias já não são mais solitários e eu só tenho a te agradecer por isso!

Ao ouvir tudo que Fabiano dissera, senti um nó me apertar a garganta e limitei-me a abraçá-lo. Deixamos aquele lugar de tristeza e fomos para minha casa.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

CAP. 23 – NO CEMITÉRIO

trilha sonora


Chegamos ao cemitério e paramos diante de uma lápide onde se encontravam os nomes Fernanda e Gabrielly.  Pelas datas, percebi que Fernanda era a falecida esposa de Fabiano, e Gabrielly, a filha que morrera com apenas 3 aninhos, idade de minha filha.

Próximo às lápides, havia um banquinho branco cercado por uma roseira que exalava um perfume delicioso. Eu sei, é uma ironia dizer que flores exalam perfumes diante de lápides, mas o perfume delas tornava o ambiente menos triste.

Depois de um tempo em silêncio, Fabiano começou a me contar a causa do falecimento de ambas:

- Estávamos voltando de Santa Catarina onde havíamos ido passar as férias. Saímos cedo de Floripa para não correr riscos na viagem.

Dizendo isso, ele soltou um riso nervoso e continuou:

- Mas eu me esqueci de que não adianta apenas um motorista ter cuidado se os demais andam como loucos. E foi um louco desses que fazendo uma ultrapassagem forçada em alta velocidade no sentido oposto ao nosso, colidiu com nosso carro.

Não pude deixar de imaginar a cena e sentir na própria pele a dor que ele sentiu e que ainda hoje sentia.

Respirando profundamente ele continuou:

- Eu não vi mais nada depois da batida! Quando acordei, estava num hospital e as enfermeiras me disseram que eu fiquei adormecido por três dias para não sentir tanto as dores do acidente.

- A primeira coisa que procurei saber, foi do estado de Fernanda e de Gabrielly e o médico me disse que em breve teria notícias delas. Ele pediu que eu descansasse um pouco mais, pois pela tarde eu teria alta. Disse também que meus pais estavam a caminho para me tirarem do hospital, pois como estava machucado, precisaria de auxílio.

Diante dessa promessa, eu adormeci novamente. Mas se eu pudesse imaginar o que eu ouviria de meus adoráveis pais, acho que preferiria ter morrido com elas.

Dizendo isso, ele acariciava a lápide onde jaziam os restos mortais de suas queridas . Respeitei seu silêncio e me limitei a dar meu apoio em forma de um abraço.

Retribuindo meu abraço ele perguntou se podia continuar. Eu acenei com a cabeça que sim. E os relatos de meu amigo, quase me fizeram chorar, mas a minha posição ali, não me dava esse direito, eu precisava confortá-lo. Ele prosseguiu:

- Despertei no inicio da tarde e vi meus pais ao meu lado com feições apreensivas. Desconfiei que alguma coisa não estava bem e perguntei novamente por Fernanda e Gaby.

- Minha mãe, segurando a minha mão, apenas me disse: “Filho, precisamos que você seja forte neste momento!”

- Olhei minha mãe nos olhos e vi que algo ruim tinha acontecido. Não suportando mais aquilo tudo, pedi que me contassem o que havia acontecido. E então minha mãe me deu a terrível notícia: “Filho, sua esposa e sua filha não sobreviveram ao acidente!”

Foram as últimas palavras que eu ouvi antes de começar a gritar feito louco no hospital.





quarta-feira, 21 de novembro de 2012

CAP. 22 – O SEGREDO DE FABIANO


Depois dos problemas que tive com Samuel, Fabiano passou a me buscar diariamente em casa e nos tornamos bons amigos. Gabriela adorava ter esse “tio” esperando-a na saída da escola. Como já estava entendendo melhor as coisas, se ressentia da ausência do pai em sua vida.

Meus finais de semana com Gabriela passaram a ser menos solitários, pois Fabiano nos fazia companhia constantemente. Para minha pequena, essa mudança foi bem favorável a ela que encontrou nele um realizador de seus caprichos infantis.

Durante o dia, levávamos Gabriela para passear e a noite saíamos para jantar e minha filha ficava aos cuidados de dona Augusta.

Foi perto da páscoa, um mês depois, que eu descobri o motivo do semblante triste de meu amigo. Ele chegou em minha casa muito nervoso e disse:

- Carol, me ajuda!! Estou me sentindo sufocado! Por favor, me ajuda!

Eu fiquei assustada, nunca tinha visto Fabiano daquele jeito. Resolvi perguntar:

- O que aconteceu para te deixar nervoso desse jeito ?

Em resposta, ele me abraçou e começou a chorar. Seu choro era tão sentido que eu esperei ele se acalmar para então perguntar novamente:

- O que está acontecendo com você ?

- Quer me contar ? Sabe que pode contar comigo!

Com uma expressão de dor ele me respondeu ainda soluçante:

- Hoje é aniversário de morte de minha esposa e de minha filha! E dizendo isso recomeçou a chorar.
Eu fiquei sem reação. Era este o motivo de sua maneira tão calada em muitos ambientes! Abracei-o mais forte e deixei que chorasse em meu ombro até se acalmar.

Quando ele finalmente conseguiu falar novamente, me fez um pedido:

- Você poderia ir até o cemitério comigo ? Não quero ir lá sozinho, a dor é muito grande! Por favor Carol, eu preciso de você nesse momento!

Como negar qualquer pedido ao meu amigo ?

Entramos no carro e nos dirigimos ao cemitério.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CAP. 21 – FABIANO


Conheci Fabiano quando retornei à minha antiga cidade, transferida pelo banco. Quando soube que seria transferida para C***, fiquei apreensiva, mas convenci a mim mesma, que estaria voltando pela porta da frente. Lutei muito e consegui juntar bens.

No meu primeiro dia de trabalho, Fabiano, que era o gerente do banco, foi me receber e eu logo percebi que ele era uma pessoa de pouca conversa. A minha impressão foi confirmada pelos demais funcionários que não gostavam de sua maneira seca de trabalhar.

Ele era um homem branco, alto, magro e corpo pouco atlético. Cabelos cortados bem curtos e loiro, bem diferente de Samuel. Respirei aliviada por não ter ninguém no meu ambiente de trabalho que me fizesse lembrar a visão do inferno que era meu ex em minha vida.

Fabiano possuía um semblante triste, mas ninguém tinha coragem de saber o por quê.  Como não era de minha conta, também não me preocupei em saber.. Fazia meu trabalho e tentava conviver em harmonia com todos os meus colegas.

Mas o seu gesto amigo quando Samuel apareceu no banco me ameaçando, me deixou profundamente tocada. De alguma forma, ele me fazia lembrar de Marcos, que se estivesse perto, certamente estaria me apoiando.

Despertei de meus devaneios com o risinho maroto de Gabriela:

- Mamãe “ta” pensando no tio!!!!!

Não aguentei, abracei minha pequena e a enchi de beijos.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

CAP. 20 – SAMUEL

Trilha sonora


Deitada em minha cama, minha mente divagava nas lembranças daquele dia. Pela primeira vez nos últimos três anos eu tive uma figura masculina para me defender. Ainda que fosse apenas um colega de trabalho, era bom sentir que alguém tinha se preocupado comigo.

Tinha vontade de procurar meus pais, mas todas as tentativas resultavam sempre em lágrimas escondidas de Gabi.

Samuel e Fabiano, dois seres tão diferentes que não dava para comparar. Samuel, um belo homem de pele morena clara, corpo definido por treinos exaustivos na academia, cabelo caindo nos ombros, usados num rabo de cavalo e um cavanhaque que lhe conferia um ar muito especial. A boca bem feita, quando se abria num sorriso, me deixava desarmada.

Nos  conhecemos num barzinho, onde eu costumava ir todos os dias ao sair do colégio onde trabalhava. Conversamos sobre tantas coisas naquele dia...  nem parecia que tínhamos acabado de nos conhecer. Quando me despedi, trocamos telefones e no dia seguinte ele me telefonou.

Começamos a sair, e depois de um mês decidimos namorar sério. Nossa relação era intensa, e com Samuel, eu nem me lembrava dos medos e temores que um dia eu senti e que deixou marcas profundas em minha vida.

Ficamos juntos por dois anos, até que eu descobri que estava esperando um filho dele.

 O que eu ouvi me deixou desesperada: “Sou muito jovem para ser pai”. E me fez descer do carro.
Voltei sozinha de táxi para casa e fui para o meu quarto. No dia seguinte, quando dei a notícia de minha gravidez, outro espanto e outra decepção. Meus pais reagiram de forma negativa e deixaram de falar comigo.

A situação ficou insustentável e eu resolvi me mudar para um hotel onde fiquei por dois meses, até que surgiu a oportunidade de um concurso em outra cidade. 

O cargo não era do meu agrado, mas seria melhor do que ficar dando aulas naquela cidade sendo alvo dos olhares piedosos dos amigos e de hostilidade por parte de conservadores preconceituosos.

Passei no concurso e fui embora recomeçar minha vida.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CAP. 19 – MOMENTOS DE EMOÇÃO



Quando chegamos em casa, convidei Fabiano para entrar, mas alegando cansaço, se despediu e pediu que o esperasse no dia seguinte que ele passaria para me buscar e deixaria também Gabriela no colégio.

 Nos  despedimos com um aperto de mão e Gabi com sua inocência disse:

- Mãe, não é assim que a senhora tem que se despedir do tio! 

E sem esperar qualquer comentário nosso, ela abraçou Fabiano dizendo:

- Tio, “brigadu” por trazer a gente, mas da próxima vez a gente tem que passar na sorveteria, a gente faz isso todo dia!

Constrangida pelo comentário de Gabriela, eu lhe dei um leve beliscão ao que ela retrucou me deixando ainda mais envergonhada:

- Ai mãe! Não belisca!

Fabiano, rindo da inocência de Gabi,  se abaixou e respondeu:

- Eu não sabia que essa princesinha tinha o hábito de tomar sorvete todos os dias!

 E colocando a mão no peito em gesto solene continuou a dizer:

- Quando o tio te buscar na escola de novo, vamos tomar um big sorvete!

Os olhinhos de Gabi brilharam:

- Com muita calda de caramelo e chocolate ???

Abraçando minha filha, ele respondeu:

- O tanto que você quiser!

Vendo essa cena, meu coração se encheu de ternura e emoção. Como eu queria que Gabi tivesse essa figura paterna.

Fabiano se despediu rápido e eu percebi que havia uma lágrima que ele segurava em seus olhos... ou eu estaria vendo coisas demais ???

Mais tarde, depois de dar o jantar de Gabriela, peguei o meu velho diário e tentei me concentrar em sua leitura.

(trilha sonora aqui)

A***, 26 de fevereiro de 1995
Diário, passei uns dias sem escrever em você, mas não aconteceram muitas coisas legais... os meninos perderam a liderança de classe, ou melhor, em parte, eu fiquei como líder e o Serginho como vice. Mas essa semana estamos nos preparando para o carnaval!!!!  Vamos montar um bloco muito legal!!!!
O Marcos também vai entrar no bloco... estou aflita diário!!

Fechei o diário e me lembrei de Marcos, hoje um empresário bem sucedido e ainda meu grande amigo. A minha vida me levou para tantos lugares.... e nesses tantos lugares eu conheci tantas pessoas... entre elas Samuel e Fabiano... dois  homens tão distintos... um me fazendo tão mal e o outro tão bem.

Deixei o pensamento divagar comparando um e outro.


sábado, 20 de outubro de 2012

CAP. 18 – FABIANO X SAMUEL


Sai do trabalho devidamente escoltada por Fabiano e um guarda do banco levaria meu carro para casa. Fomos direto para a escola de Gabi onde me deparei com uma terrível visão.

Na frente do colégio, Samuel fazia brincadeiras com Gabriela sob o olhar atento de dona Augusta que ainda não sabia que estava diante do canalha que era o pai da minha filha.

Gabriela ria de suas brincadeiras e inocentemente ia se deixar pegar no colo por aquele homem que lhe era tão familiar e ao mesmo tempo um desconhecido, quando eu gritei seu nome e  arranquei-a dos braços de Samuel.

Entreguei Gabriela para dona Augusta e pedi que levasse a menina para o carro. Disfarçando a minha raiva, falei baixinho para Samuel:

- Eu já disse para ficar longe da minha filha!

Cínico, ele me ofereceu um belo sorriso e respondeu:

- Meu Deus Carolina! Um pai tem direito de brincar com sua filha!

Fabiano, que até então se mantivera calado, entrou na conversa em minha defesa:

- Que pai ???? Um homem que abandonou a namorada grávida não é homem, muito menos PAI. Ser PAI é muito mais do que doar espermatozóides... porque a única coisa que você fez até agora, foi isso... doar espermatozóide!

Rindo sarcasticamente, Samuel retrucou:

- Eu não sabia que você tinha um defensor tão ardoroso Carolina!

E dando um empurrão em Fabiano continuou:

- Some daqui palhaço que o meu assunto não é com você!

Segurando Samuel pelo colarinho, Fabiano tornou a me defender:

- Agora ela tem! Fique longe dela!

Em seguida, me abraçou e me chamou para irmos embora

terça-feira, 16 de outubro de 2012

CAP. 17 – UM OMBRO AMIGO INESPERADO


Preocupado com meu nervosismo, Fabiano me convidou para almoçar. No restaurante, eu tentava me acalmar, afinal, ainda tinha o período da tarde para dar expediente.

Contei minha história a ele que ouviu tudo com muita atenção. O seu gesto me deixou surpresa, pois sua atitude dentro do banco era sempre muito reservada, eu diria até mesmo que era muito fria.

Quando terminamos de almoçar, Fabiano disse:

- Carolina, quando encerrarmos o expediente, me espere que a levarei em casa!

- Não é necessário, eu estou de carro! – Eu respondi.

Insistente, ele tornou a dizer:

- Se o problema for buscar sua filha na escola, posso muito bem fazer isso também, faz dois anos que não sei o que é isso, mas será agradável viver essa sensação novamente!

Dizendo isso, um sorriso triste se formou em seu rosto e  imaginei que ele pudesse ser separado. Ele logo desviou o assunto e tornou a dizer:

- De volta ao expediente senhorita Carolina Mendes! E não ouse ir embora sozinha!

Retomando meu semblante sério, perguntei:

- E quem levará meu carro para casa ? Eu preciso dele para trabalhar amanhã! Felizmente a Gabi fica aos cuidados de dona Augusta que cuida dela com todo seu amor, mas as noites são dedicadas aos seus passeios.

Ouvindo isso ele disse:

- Não saia de casa hoje a noite! Pode ser perigoso! Conversaremos mais ao fim do expediente.

O resto da tarde eu passei apreensiva. Ficar sozinha com Gabi em casa me causava pânico. Mas pânico mesmo eu sentiria logo mais.



domingo, 14 de outubro de 2012

CAP. 16 – TEMPESTADE


Parece que a vida resolveu ficar de mal comigo e testar a minha capacidade emocional de sentir raiva e emoção.

 Cheguei mais cedo no banco tentando esquecer a visão do inferno me dedicando de corpo e alma ao trabalho. Mas para meu desgosto, Samuel resolveu aparecer no banco, e na falta de outro funcionário, fui obrigada a atendê-lo.

Sentado diante de mim ele foi enfático:

- Minha doce Carolina... como eu pude te abandonar ???? Se eu soubesse que você se tornaria uma bancária bem sucedida teria me casado com você...

Senti nojo ao ouvir tais palavras do homem que infelizmente, era o pai da minha filha. Mas o que ele ainda iria dizer me causaria profundo desespero:

- Eu não vou fazer rodeios! Sei que você ganha o suficiente para viver bem e acho que mereço tomar parte nos seus lucros, como pai de sua filha....

Me indignei ao ouvir aquilo:

- Você é mesmo um grande cretino! Não vou te dar um centavo do que ganho! Não tem vergonha de me pedir o dinheiro que é pra sustentar a TUA FILHA ? A FILHA QUE VOCÊ ABANDONOU ANTES DE NASCER ????

Segurando meus braços com força ele foi categórico:

- Ou você me dá o dinheiro ou entro na justiça para tomar a guarda da criança, e ai você ainda terá que me dar pensão com a benção da justiça!

Esquecendo de que estava em meu local de trabalho eu gritei a plenos pulmões:

- Fica longe da minha filha! Você não tem o direito de me atrapalhar depois de ter me abandonado grávida!!

Nessa altura, todos os olhares já estavam voltados para nós, mas eu ignorei tudo isso e continuei:

- Minha família me despreza por ser mãe solteira, a Gabi não sabe o que é ter contato com primos porque meus irmãos não permitem que os filhos se aproximem dela, na escolinha os pais não a convidam para festinhas, porque ela não tem um pai que a acompanhe!

Não suportando mais a tensão emocional, eu comecei a chorar. As pessoas presentes no banco foram pra cima de Samuel, e Fabiano, o gerente do banco, mandou os seguranças retirarem-no dali.