Depois dos problemas que tive com Samuel, Fabiano passou a me buscar
diariamente em casa e nos tornamos bons amigos. Gabriela adorava ter esse “tio”
esperando-a na saída da escola. Como já estava entendendo melhor as coisas, se
ressentia da ausência do pai em sua vida.
Meus finais de semana com Gabriela passaram a ser menos solitários, pois
Fabiano nos fazia companhia constantemente. Para minha pequena, essa mudança
foi bem favorável a ela que encontrou nele um realizador de seus caprichos
infantis.
Durante o dia, levávamos Gabriela para passear e a noite saíamos para
jantar e minha filha ficava aos cuidados de dona Augusta.
Foi perto da páscoa, um mês depois, que eu descobri o motivo do
semblante triste de meu amigo. Ele chegou em minha casa muito nervoso e disse:
- Carol, me ajuda!! Estou me sentindo sufocado! Por favor, me ajuda!
Eu fiquei assustada, nunca tinha visto Fabiano daquele jeito. Resolvi
perguntar:
- O que aconteceu para te deixar nervoso desse jeito ?
Em resposta, ele me abraçou e começou a chorar. Seu choro era tão
sentido que eu esperei ele se acalmar para então perguntar novamente:
- O que está acontecendo com você ?
- Quer me contar ? Sabe que pode contar comigo!
Com uma expressão de dor ele me respondeu ainda soluçante:
- Hoje é aniversário de morte de minha esposa e de minha filha! E
dizendo isso recomeçou a chorar.
Eu fiquei sem reação. Era este o motivo de sua maneira tão calada em
muitos ambientes! Abracei-o mais forte e deixei que chorasse em meu ombro até
se acalmar.
Quando ele finalmente conseguiu falar novamente, me fez um pedido:
- Você poderia ir até o cemitério comigo ? Não quero ir lá sozinho, a
dor é muito grande! Por favor Carol, eu preciso de você nesse momento!
Como negar qualquer pedido ao meu amigo ?
Entramos no carro e nos dirigimos ao cemitério.