terça-feira, 30 de outubro de 2012

CAP. 20 – SAMUEL

Trilha sonora


Deitada em minha cama, minha mente divagava nas lembranças daquele dia. Pela primeira vez nos últimos três anos eu tive uma figura masculina para me defender. Ainda que fosse apenas um colega de trabalho, era bom sentir que alguém tinha se preocupado comigo.

Tinha vontade de procurar meus pais, mas todas as tentativas resultavam sempre em lágrimas escondidas de Gabi.

Samuel e Fabiano, dois seres tão diferentes que não dava para comparar. Samuel, um belo homem de pele morena clara, corpo definido por treinos exaustivos na academia, cabelo caindo nos ombros, usados num rabo de cavalo e um cavanhaque que lhe conferia um ar muito especial. A boca bem feita, quando se abria num sorriso, me deixava desarmada.

Nos  conhecemos num barzinho, onde eu costumava ir todos os dias ao sair do colégio onde trabalhava. Conversamos sobre tantas coisas naquele dia...  nem parecia que tínhamos acabado de nos conhecer. Quando me despedi, trocamos telefones e no dia seguinte ele me telefonou.

Começamos a sair, e depois de um mês decidimos namorar sério. Nossa relação era intensa, e com Samuel, eu nem me lembrava dos medos e temores que um dia eu senti e que deixou marcas profundas em minha vida.

Ficamos juntos por dois anos, até que eu descobri que estava esperando um filho dele.

 O que eu ouvi me deixou desesperada: “Sou muito jovem para ser pai”. E me fez descer do carro.
Voltei sozinha de táxi para casa e fui para o meu quarto. No dia seguinte, quando dei a notícia de minha gravidez, outro espanto e outra decepção. Meus pais reagiram de forma negativa e deixaram de falar comigo.

A situação ficou insustentável e eu resolvi me mudar para um hotel onde fiquei por dois meses, até que surgiu a oportunidade de um concurso em outra cidade. 

O cargo não era do meu agrado, mas seria melhor do que ficar dando aulas naquela cidade sendo alvo dos olhares piedosos dos amigos e de hostilidade por parte de conservadores preconceituosos.

Passei no concurso e fui embora recomeçar minha vida.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CAP. 19 – MOMENTOS DE EMOÇÃO



Quando chegamos em casa, convidei Fabiano para entrar, mas alegando cansaço, se despediu e pediu que o esperasse no dia seguinte que ele passaria para me buscar e deixaria também Gabriela no colégio.

 Nos  despedimos com um aperto de mão e Gabi com sua inocência disse:

- Mãe, não é assim que a senhora tem que se despedir do tio! 

E sem esperar qualquer comentário nosso, ela abraçou Fabiano dizendo:

- Tio, “brigadu” por trazer a gente, mas da próxima vez a gente tem que passar na sorveteria, a gente faz isso todo dia!

Constrangida pelo comentário de Gabriela, eu lhe dei um leve beliscão ao que ela retrucou me deixando ainda mais envergonhada:

- Ai mãe! Não belisca!

Fabiano, rindo da inocência de Gabi,  se abaixou e respondeu:

- Eu não sabia que essa princesinha tinha o hábito de tomar sorvete todos os dias!

 E colocando a mão no peito em gesto solene continuou a dizer:

- Quando o tio te buscar na escola de novo, vamos tomar um big sorvete!

Os olhinhos de Gabi brilharam:

- Com muita calda de caramelo e chocolate ???

Abraçando minha filha, ele respondeu:

- O tanto que você quiser!

Vendo essa cena, meu coração se encheu de ternura e emoção. Como eu queria que Gabi tivesse essa figura paterna.

Fabiano se despediu rápido e eu percebi que havia uma lágrima que ele segurava em seus olhos... ou eu estaria vendo coisas demais ???

Mais tarde, depois de dar o jantar de Gabriela, peguei o meu velho diário e tentei me concentrar em sua leitura.

(trilha sonora aqui)

A***, 26 de fevereiro de 1995
Diário, passei uns dias sem escrever em você, mas não aconteceram muitas coisas legais... os meninos perderam a liderança de classe, ou melhor, em parte, eu fiquei como líder e o Serginho como vice. Mas essa semana estamos nos preparando para o carnaval!!!!  Vamos montar um bloco muito legal!!!!
O Marcos também vai entrar no bloco... estou aflita diário!!

Fechei o diário e me lembrei de Marcos, hoje um empresário bem sucedido e ainda meu grande amigo. A minha vida me levou para tantos lugares.... e nesses tantos lugares eu conheci tantas pessoas... entre elas Samuel e Fabiano... dois  homens tão distintos... um me fazendo tão mal e o outro tão bem.

Deixei o pensamento divagar comparando um e outro.


sábado, 20 de outubro de 2012

CAP. 18 – FABIANO X SAMUEL


Sai do trabalho devidamente escoltada por Fabiano e um guarda do banco levaria meu carro para casa. Fomos direto para a escola de Gabi onde me deparei com uma terrível visão.

Na frente do colégio, Samuel fazia brincadeiras com Gabriela sob o olhar atento de dona Augusta que ainda não sabia que estava diante do canalha que era o pai da minha filha.

Gabriela ria de suas brincadeiras e inocentemente ia se deixar pegar no colo por aquele homem que lhe era tão familiar e ao mesmo tempo um desconhecido, quando eu gritei seu nome e  arranquei-a dos braços de Samuel.

Entreguei Gabriela para dona Augusta e pedi que levasse a menina para o carro. Disfarçando a minha raiva, falei baixinho para Samuel:

- Eu já disse para ficar longe da minha filha!

Cínico, ele me ofereceu um belo sorriso e respondeu:

- Meu Deus Carolina! Um pai tem direito de brincar com sua filha!

Fabiano, que até então se mantivera calado, entrou na conversa em minha defesa:

- Que pai ???? Um homem que abandonou a namorada grávida não é homem, muito menos PAI. Ser PAI é muito mais do que doar espermatozóides... porque a única coisa que você fez até agora, foi isso... doar espermatozóide!

Rindo sarcasticamente, Samuel retrucou:

- Eu não sabia que você tinha um defensor tão ardoroso Carolina!

E dando um empurrão em Fabiano continuou:

- Some daqui palhaço que o meu assunto não é com você!

Segurando Samuel pelo colarinho, Fabiano tornou a me defender:

- Agora ela tem! Fique longe dela!

Em seguida, me abraçou e me chamou para irmos embora

terça-feira, 16 de outubro de 2012

CAP. 17 – UM OMBRO AMIGO INESPERADO


Preocupado com meu nervosismo, Fabiano me convidou para almoçar. No restaurante, eu tentava me acalmar, afinal, ainda tinha o período da tarde para dar expediente.

Contei minha história a ele que ouviu tudo com muita atenção. O seu gesto me deixou surpresa, pois sua atitude dentro do banco era sempre muito reservada, eu diria até mesmo que era muito fria.

Quando terminamos de almoçar, Fabiano disse:

- Carolina, quando encerrarmos o expediente, me espere que a levarei em casa!

- Não é necessário, eu estou de carro! – Eu respondi.

Insistente, ele tornou a dizer:

- Se o problema for buscar sua filha na escola, posso muito bem fazer isso também, faz dois anos que não sei o que é isso, mas será agradável viver essa sensação novamente!

Dizendo isso, um sorriso triste se formou em seu rosto e  imaginei que ele pudesse ser separado. Ele logo desviou o assunto e tornou a dizer:

- De volta ao expediente senhorita Carolina Mendes! E não ouse ir embora sozinha!

Retomando meu semblante sério, perguntei:

- E quem levará meu carro para casa ? Eu preciso dele para trabalhar amanhã! Felizmente a Gabi fica aos cuidados de dona Augusta que cuida dela com todo seu amor, mas as noites são dedicadas aos seus passeios.

Ouvindo isso ele disse:

- Não saia de casa hoje a noite! Pode ser perigoso! Conversaremos mais ao fim do expediente.

O resto da tarde eu passei apreensiva. Ficar sozinha com Gabi em casa me causava pânico. Mas pânico mesmo eu sentiria logo mais.



domingo, 14 de outubro de 2012

CAP. 16 – TEMPESTADE


Parece que a vida resolveu ficar de mal comigo e testar a minha capacidade emocional de sentir raiva e emoção.

 Cheguei mais cedo no banco tentando esquecer a visão do inferno me dedicando de corpo e alma ao trabalho. Mas para meu desgosto, Samuel resolveu aparecer no banco, e na falta de outro funcionário, fui obrigada a atendê-lo.

Sentado diante de mim ele foi enfático:

- Minha doce Carolina... como eu pude te abandonar ???? Se eu soubesse que você se tornaria uma bancária bem sucedida teria me casado com você...

Senti nojo ao ouvir tais palavras do homem que infelizmente, era o pai da minha filha. Mas o que ele ainda iria dizer me causaria profundo desespero:

- Eu não vou fazer rodeios! Sei que você ganha o suficiente para viver bem e acho que mereço tomar parte nos seus lucros, como pai de sua filha....

Me indignei ao ouvir aquilo:

- Você é mesmo um grande cretino! Não vou te dar um centavo do que ganho! Não tem vergonha de me pedir o dinheiro que é pra sustentar a TUA FILHA ? A FILHA QUE VOCÊ ABANDONOU ANTES DE NASCER ????

Segurando meus braços com força ele foi categórico:

- Ou você me dá o dinheiro ou entro na justiça para tomar a guarda da criança, e ai você ainda terá que me dar pensão com a benção da justiça!

Esquecendo de que estava em meu local de trabalho eu gritei a plenos pulmões:

- Fica longe da minha filha! Você não tem o direito de me atrapalhar depois de ter me abandonado grávida!!

Nessa altura, todos os olhares já estavam voltados para nós, mas eu ignorei tudo isso e continuei:

- Minha família me despreza por ser mãe solteira, a Gabi não sabe o que é ter contato com primos porque meus irmãos não permitem que os filhos se aproximem dela, na escolinha os pais não a convidam para festinhas, porque ela não tem um pai que a acompanhe!

Não suportando mais a tensão emocional, eu comecei a chorar. As pessoas presentes no banco foram pra cima de Samuel, e Fabiano, o gerente do banco, mandou os seguranças retirarem-no dali.