Deitada em minha cama, minha mente divagava nas lembranças daquele dia.
Pela primeira vez nos últimos três anos eu tive uma figura masculina para me
defender. Ainda que fosse apenas um colega de trabalho, era bom sentir que
alguém tinha se preocupado comigo.
Tinha vontade de procurar meus pais, mas todas as tentativas resultavam
sempre em lágrimas escondidas de Gabi.
Samuel e Fabiano, dois seres tão diferentes que não dava para comparar.
Samuel, um belo homem de pele morena clara, corpo definido por treinos exaustivos
na academia, cabelo caindo nos ombros, usados num rabo de cavalo e um
cavanhaque que lhe conferia um ar muito especial. A boca bem feita, quando se
abria num sorriso, me deixava desarmada.
Nos conhecemos num barzinho, onde
eu costumava ir todos os dias ao sair do colégio onde trabalhava. Conversamos
sobre tantas coisas naquele dia... nem
parecia que tínhamos acabado de nos conhecer. Quando me despedi, trocamos
telefones e no dia seguinte ele me telefonou.
Começamos a sair, e depois de um mês decidimos namorar sério. Nossa
relação era intensa, e com Samuel, eu nem me lembrava dos medos e temores que
um dia eu senti e que deixou marcas profundas em minha vida.
Ficamos juntos por dois anos, até que eu descobri que estava esperando
um filho dele.
O que eu ouvi me deixou
desesperada: “Sou muito jovem para ser pai”. E me fez descer do carro.
Voltei sozinha de táxi para casa e fui para o meu quarto. No dia
seguinte, quando dei a notícia de minha gravidez, outro espanto e outra
decepção. Meus pais reagiram de forma negativa e deixaram de falar comigo.
A situação ficou insustentável e eu resolvi me mudar para um hotel onde
fiquei por dois meses, até que surgiu a oportunidade de um concurso em outra
cidade.
O cargo não era do meu agrado, mas seria melhor do que ficar dando
aulas naquela cidade sendo alvo dos olhares piedosos dos amigos e de
hostilidade por parte de conservadores preconceituosos.
Passei no concurso e fui embora recomeçar minha vida.