Chegamos ao cemitério e paramos diante de uma lápide onde se encontravam
os nomes Fernanda e Gabrielly. Pelas datas, percebi que Fernanda era
a falecida esposa de Fabiano, e Gabrielly, a filha que morrera com apenas 3
aninhos, idade de minha filha.
Próximo às lápides, havia um banquinho branco cercado por uma roseira
que exalava um perfume delicioso. Eu sei, é uma ironia dizer que flores exalam
perfumes diante de lápides, mas o perfume delas tornava o ambiente menos
triste.
Depois de um tempo em silêncio, Fabiano começou a me contar a causa do
falecimento de ambas:
- Estávamos voltando de Santa Catarina onde havíamos ido passar as
férias. Saímos cedo de Floripa para não correr riscos na viagem.
Dizendo isso, ele soltou um riso nervoso e continuou:
- Mas eu me esqueci de que não adianta apenas um motorista ter cuidado
se os demais andam como loucos. E foi um louco desses que fazendo uma
ultrapassagem forçada em alta velocidade no sentido oposto ao nosso, colidiu
com nosso carro.
Não pude deixar de imaginar a cena e sentir na própria pele a dor que
ele sentiu e que ainda hoje sentia.
Respirando profundamente ele continuou:
- Eu não vi mais nada depois da batida! Quando acordei, estava num
hospital e as enfermeiras me disseram que eu fiquei adormecido por três dias
para não sentir tanto as dores do acidente.
- A primeira coisa que procurei saber, foi do estado de Fernanda e de
Gabrielly e o médico me disse que em breve teria notícias delas. Ele pediu que
eu descansasse um pouco mais, pois pela tarde eu teria alta. Disse também que
meus pais estavam a caminho para me tirarem do hospital, pois como estava
machucado, precisaria de auxílio.
Diante dessa promessa, eu adormeci novamente. Mas se eu pudesse imaginar
o que eu ouviria de meus adoráveis pais, acho que preferiria ter morrido com
elas.
Dizendo isso, ele acariciava a lápide onde jaziam os restos mortais de
suas queridas . Respeitei seu silêncio e me limitei a dar meu apoio em forma de
um abraço.
Retribuindo meu abraço ele perguntou se podia continuar. Eu acenei com a
cabeça que sim. E os relatos de meu amigo, quase me fizeram chorar, mas a minha
posição ali, não me dava esse direito, eu precisava confortá-lo. Ele
prosseguiu:
- Despertei no inicio da tarde e vi meus pais ao meu lado com feições
apreensivas. Desconfiei que alguma coisa não estava bem e perguntei novamente
por Fernanda e Gaby.
- Minha mãe, segurando a minha mão, apenas me disse: “Filho, precisamos
que você seja forte neste momento!”
- Olhei minha mãe nos olhos e vi que algo ruim tinha acontecido. Não
suportando mais aquilo tudo, pedi que me contassem o que havia acontecido. E
então minha mãe me deu a terrível notícia: “Filho, sua esposa e sua filha não
sobreviveram ao acidente!”
Foram as últimas palavras que eu ouvi antes de começar a gritar feito
louco no hospital.
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