A história de Fabiano era bem triste... que dor ele não sentiu ao
acordar num quarto de hospital, machucado, cheio de dores e ainda descobrir que
sua família não existia mais.
Percebendo que me contar sua história estava ajudando a acalmá-lo,
deixei que continuasse e sentamo-nos no banquinho de frente para a lápide.
Fernanda e Gaby foram veladas na
capela do hospital. Alguns amigos vieram para o velório. Quando eu apareci todo
enfaixado, senti que todos os olhares se voltaram para mim.
Em outros tempos, eu diria que
chorar na frente dos outros, era indelicado, mas naquele momento, eu não queria
saber dos meus antigos pensamentos, só pensava na realidade que eu via diante
de meus olhos... a minha família dentro de um caixão... era demais pra mim...
chorei diante de todos eles, extravasando a minha dor!
Meus pais me amparavam tentando
me dar forças, mas eu queria estar ali com elas, não fazia sentido continuar
vivendo, vendo minha família desfeita por culpa de um motorista desatento!
Meus sogros choravam a perda da filha e da neta e não sabiam
o que me dizer, nos abraçamos os três, irmanados na mesma dor.
Tirei alguns meses de licença para poder me recuperar e tentar esquecer
essa tragédia. Fechei a minha casa e voltei a morar com meus pais, era
insuportável chegar em casa e ver tudo vazio e sem vida!
Eu me acostumei a ser sozinho, e
de certa forma, me tornei uma pessoa calada, de pouca conversa. E então eu
conheci você, que veio trabalhar na agência onde eu sou gerente e que também
tinha uma história triste.
No dia em que te vi gritar com o
seu antigo noivo e começar a chorar, algo em mim me fez querer te defender!
Pensei que naquele acidente, se fosse eu quem tivesse morrido, a
minha esposa teria ficado viúva com uma filha para criar ou talvez sozinha... e
a mercê de encontrar um cara como esse Samuel... e então eu resolvi te defender
pessoalmente e me aproximei de você! E foi a melhor coisa que aconteceu na
minha vida... os meus dias já não são mais solitários e eu só tenho a te
agradecer por isso!
Ao ouvir tudo que Fabiano dissera, senti um nó me apertar a garganta e
limitei-me a abraçá-lo. Deixamos aquele lugar de tristeza e fomos para minha
casa.
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